Eram três. Conheceram-se no primeiro dia de aula da faculdade, quando seu professor de História da Administração os reuniu para um trabalho, enfatizando que deveriam permanecer juntos até o final do ano.
Assim, por comum acordo, decidiram que o quanto antes soubessem um sobre o outro aquilo que porventura houvesse para se saber, melhor.
O mais alto era também o mais bem-apessoado. Chamava a atenção pelo porte esbelto e elegante, pela voz confiante, porém cortês, e pela aura geral de alguém acostumado a comandar as situações, o que lhe valeria, com toda a justeza, a alcunha de "Líder".
O mais baixo era também o mais magro e agitado. Falava muito e rapidamente, adotando um discurso que objetivava dar-lhe ares de segurança e audácia, mas que, à ouvidos mais perceptíveis, soava um tanto irreal. A bravata acabaria por torná-lo conhecido como "o Louco".
O último era pouca coisa mais baixo que o Líder, porém estava acima do peso e não contava com a elegância deste. Tampouco se destacava pela língua afiada e atitude autoconfiante do Louco. Era o mais quieto e observador de todos, e sua expressão neutra poderia facilmente ser interpretada como a de alguém que estava permanentemente analisando o mundo ao seu redor. Convenientemente, tornar-se-ia "o Quieto".
Ao final daquela primeira aula, sabiam sobre si mesmos o suficiente para acreditar que iriam se dar muito bem na execução de quaisquer tarefas acadêmicas que surgissem, ao menos naquela matéria.
O que não imaginavam, e nem tinham como saber, era que estavam iniciando uma amizade capaz de resistir ao duro teste do tempo, baseada especialmente no sentimento comum que carregavam no recanto mais profundo de suas mentes.
Eram "os Perdedores".