sábado, 22 de março de 2008

Nada mais

São poucas as coisas que fazem sentido, às vezes.

Mas isso também não importa muito, agora.

Tudo é uma grande besteira que não leva a nada.

Portanto, que se dane.

Não adianta continuar insistindo, quando o melhor é parar.

Desistir de tudo, de uma vez.

Existem muitas maneiras de fazer isso.

Para as mentes convencionais, só ocorre uma.

Para as mentes que não se limitam ao lógico, ocorrem milhares.

E todas elas piores do que o simples morrer.

Porque condenam a seguir sem um propósito.

Caminhar pelo vazio, sem um significado.

Jamais acredite que sabe tudo sobre os sentimentos, sobretudo dos outros.

Só o dono da dor sabe o quanto ela dói.

E só ele pode saber o que é passageiro e o que não é.

Quem não for capaz de entender algo tão simples...

Ao menos saiba respeitar o que sentem os demais.

E deixe que eles vivam morrendo em paz.

segunda-feira, 17 de março de 2008

E agora...

Tudo começa aqui.

Agora o ciclo chegou realmente no final. Os últimos compromissos relacionados foram devidamente cumpridos. Não restou mais nenhuma ponta solta.

Ou então, pode-se dizer que as últimas amarras foram cortadas. Não há mais nada de "sólido" para manter tudo unido, para manter as coisas como têm sido até agora - fato esse que traz à tona a necessidade de se tomar uma decisão.

Uma decisão que precisa ser baseada naquilo que foi construído em torno do pilar central ao longo do caminho, já que o pilar em si já não existe mais. E a construção propriamente dita foi imperfeita, irregular, cheia de altos e baixos e pontos de sustentação duvidosos. Não é tão frágil como essas palavras podem fazer parecer, mas ao mesmo tempo não tem tanta firmeza assim para ser considerada confiável.

O tempo para a tomada da decisão é curto. Muito mais curto do que qualquer um pode imaginar. Como de praxe, algumas escolhas são mais fáceis que outras, mas ao mesmo tempo não apresentam nenhuma garantia de conforto para o espírito.

...

Em um raro momento de lucidez ao escrever isso, percebo agora (talvez fosse melhor dizer que mesmo já tendo percebido antes, eu admito agora) que todos têm seus próprios problemas para cuidar, e que os nossos problemas são insignificantes para os demais.

Para ser mais exato, essa é a forma correta de se pensar e de agir. Deveríamos antes de tudo pensar em nós mesmos. Acertar nossos ponteiros e nosso rumo antes de olhar para fora e ver no que podemos ajudar os demais, visto que teoricamente só alguém que está em paz consigo mesmo pode fazer algo de útil e verdadeiramente significativo por alguém. E ainda assim, somente quando tal auxílio for solicitado.

Mas uma coisa é escrever. Outra, bem mais complicada, é falar. E mais difícil ainda é agir. Alguns podem até falar em nosso favor. Mas ninguém pode agir em nosso lugar.

No final, tudo se resume a isso: coragem.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Amigos

Domingo. 16 horas e 23 minutos.

Em uma mesa de bar, um sujeito toma um copo de cerveja enquanto assiste a um jogo de futebol na televisão. Nisso chega o Diego, seu grande amigo, e o cumprimenta.

- E aí? Tudo beleza?

- Opa.

Depois de cumprimentar também o dono do bar, Diego pega outra garrafa de cerveja, um copo e senta-se ao lado do sujeito.

- Cara, ontem foi foda, hein? Eu trinquei de tanto tomar. Que dor de cabeça.

- É, tava da hora o negócio.

- E você? Tá de boa, ou tá na ressaca?

- Sossegado.

- Eu nem sei que horas cheguei em casa.

- Eram cinco e meia.

- Nossa. Eu só sei que capotei lá no meio do quarto. Nem lembro como que eu entrei.

- Pulando o muro. Você pensou que tinha perdido a chave.

- Foi, né? Putz cara, que merda. E ela tava...

- ...no bolso interno da sua jaqueta.

- É.

Passou-se um momento de silêncio.

- Ué, como você sabia?

- Eu que te levei até a sua casa, te ajudei a pular o muro e vi quando a chave caiu do seu bolso.

- Nossa... Eu nem lembrava disso. Foi mal, véio.

- Nada. Você é meu amigo, porra.

Mais uma pequena pausa.

- Mas como tinha mulher lá, hein? Eu falei que ia lotar. E só tinha mina da hora. Até as meninas tavam lá. A Mariana, a Lucia, a Paula...

- É.

- O Nelão se deu bem. Filho da mãe. Ele catou uma pá de mulher. Eu cheguei em várias, mas tomei um fora atrás do outro. Só depois de uns dez foras que eu catei uma mina lá. Depois dessa, eu dei sorte com mais umas duas.

- Eu vi.

- E você? Catou alguém?

- Nem...

- Mas também, porra, você não chega na mulherada! Assim não tem como.

- Eu sei disso. Mas eu sou meio mané pra esse tipo de coisa.

Outra pausa, desta vez para encher os copos novamente e pedir mais uma cerveja.

- E a Mariana? Você devia ter chegado nela. Você não me falou que gosta dela desde o primeiro ano? Era a tua chance!

- Um cara chegou nela antes.

- Sério? Que bosta!

- Normal.

- Mas eu te falo uma coisa, você precisa arriscar mais. Tipo, é que nem eu te falei: eu levo um monte de fora, mas to sempre ali tentando. Vai que numa dessa eu conheço uma mina legal? Apesar de que ontem eu só lembro da primeira que eu beijei. Depois, eu tomei tantas que nem lembro da cara das outras.

- A loira que caiu na pista de dança.

- Fala sério! Eu catei aquela loira?!

- Catou.

- Putz! Ela beijou uma pá de nego lá! Mas também, ela tava tão chapada que era só chegar junto e catar. Mas a mina era bonita. E até impressionante uma mina tão gata dando mole desse jeito.

- Pode crer.

- E a outra, você viu também?

- Vi.

- Era da hora?

- Eu achei.

- Eu lembro mais ou menos... Só sei que ela era meio loira e ria pra caramba. Devia tá muito doida.

- E tava mesmo.

- É por isso que eu te falo, essas baladas são as melhores. Não fica aquele monte de pivete, e lota de mulher da hora. Fora as coroas gatas que vão. Você só precisa começar a chegar junto.

- Já disse, eu não tenho muito jeito pra isso.

- Nem precisa de jeito! Tá todo mundo lá a fim de divertir e pronto. De mais a mais, chega uma hora que a mulherada acaba ficando fácil. Você não viu ontem? Até o Menta pegou mulher.

- Uma baixinha. Gostosa pra caramba.

- É, né? Eu lembro! Ele ficou a noite inteira xavecando a mulher! (Risos). Provavelmente ele vai colar aqui depois. Eu vou zoar ele.

- Um-hum (o outro concorda com a cabeça, enquanto toma um gole de cerveja).

- Tá certo ele, é por aí mesmo. Vai por mim. Eu até entendo esse lance que você diz, de querer achar uma mina legal e tal... Eu também penso assim, mas não dá pra ficar só nessa. Você tem que se divertir mais, seu mané.

- Quem sabe...

De repente, o rosto do Diego se ilumina.

- Ah! Me lembrei! Eu acho que eu peguei o número daquela última mina lá. Eu lembro que eu perguntei o telefone dela e ela me passou... Apesar de que eu não sei se é de verdade. Eu te falei, ela tava rindo pra caramba, era capaz de estar me zoando.

- É de verdade sim.

- É? Como você sabe?

- Eu tenho também.

- Ela te passou?

- Passou.

- Aí, campeão!!!! Agora eu senti firmeza!!!! Eu anotei aqui como “loira” porque eu não eu não tava conseguindo salvar na memória, não lembro o motivo. Ainda não me acostumei com esse celular novo... Qual que é?

- 9... ...2.

- É esse mesmo. Peraí que eu vou arrumar... Putz, eu devia ter perguntado o nome dela.

- Se quiser, eu te falo.

- Você perguntou?

- Nem precisei. Eu já sabia.

- Como?

- Sabendo, ué.

- É? Então, fala aí.

- Mariana.

- Sério? Tá me zoando!

- Não.

- Que coincidência...

Mais um silêncio. Desta vez, um pouquinho maior que os anteriores. Diego franze a testa enquanto tenta se lembrar de alguma coisa. Ele checa o número de novo.

- 9... ...2... Esse número não me é estranho...

De repente, ele se lembra. E fica mudo. Depois de cerca de dois minutos, ele fala:

- Ah, peraí. Não pode ser. Era... “A” Mariana?

- Um-hum (o outro toma mais um gole de cerveja).

Diego olha seu amigo de lado. Este está concentrado no jogo.

- Cara, nem sei o que te dizer... Olha, foi mal, de verdade. Juro. Me desculpa.

- Pelo que?

- Como assim? Por ter catado a Mariana!

- E por que você tem que pedir desculpa pra mim?

- Mas você não falou que gosta dela faz uns dois anos, já?!

- É verdade. Só que ela não gosta de mim.

- Como você sabe?

- Sabendo.

- Mas você já falou com ela?

- Nem precisa.

- Mas mesmo assim, é foda. Eu tava muito chapado...

- Relaxa. Você quis, ela quis, e pronto.

Diego ficou quieto. Pensou consigo mesmo:

“Porra. Que merda que eu fiz... Bom, ele teve a chance, não teve? Podia ter chegado junto antes. Eu não fiz nada de errado... Apesar de que nem foi por querer. Não é possível que a Mariana não me reconheceu. Mas sei lá, ela também tava ruim pra caramba...”

Porém, a idéia de que ele tinha beijado (e beijado MESMO) a menina de quem seu amigo gostava - e ainda por cima na frente do mesmo - deixava-o muito mal. E agora? Como ficaria a amizade deles?

O outro tomou o resto da cerveja. Não demonstrava nada fora do seu jeito normal de agir. Quando o primeiro tempo do jogo terminou, levantou-se.

- Eu vou dar linha. Amanhã tem prova de Direito Trabalhista. É melhor dar uma estudada, minha média tá uma droga.

Diego se levantou também.

- Ah, tá... Viu, deixa que eu pago as brejas, belê?

- Eu pago. Você não tem nada na carteira.

Diego abriu a carteira. Estava vazia.

- Mas como isso?!

- Ontem, você perdeu seu dinheiro lá na balada, e só descobriu na hora de ir embora.

- Porra! Eu não lembrava disso! Como foi que eu paguei a comanda?

- Eu paguei a minha e a sua. Depois a gente acerta.

O outro pagou as cervejas e despediu-se do dono do bar. Voltou para cumprimentar Diego.

- Falou, véio. Até amanhã. Se cuida.

Entrou no carro e foi embora.

“Amigo é pra essas coisas”...

Obs. Nomes modificados para não deixar a história muito óbvia (pra quem sabe do fato original).

segunda-feira, 10 de março de 2008

Desiludidos

No começo tudo parecia claro. Sabíamos o que queríamos. Tínhamos confiança de que algum dia o nosso propósito iríamos descobrir e alcançar. Sabíamos com quem queríamos estar, e pensávamos que esse sonho poderia se realizar.

Agora não sabemos mais o que queremos. A confiança se foi com os inúmeros propósitos incertos pelos quais nos deixamos enganar. Ainda sabemos com quem queremos estar, mas agora também sabemos que esse momento nunca irá chegar.

Só o que nos resta é escrever... Até a razão nos abandonar.

sábado, 8 de março de 2008

A perda e o álcool

O sentimento de perda começa com uma premonição, semelhante a um calafrio daqueles que percorre o corpo sem razão aparente. Mas é uma sensação momentânea e não lhe damos a devida atenção.

Depois vem o mal-estar antecipado e inexplicável. Olham para nós e perguntam: "O que foi?"

"Não sei" é a invariável resposta. Mas o subconsciente já sabe, sim. Apenas não faz nenhum alarde até que seja o momento certo.

E finalmente... o raio. A descarga elétrica que atinge o alvo com precisão, e cuja capacidade destrutiva é devastadora. Não é preciso nem perguntar. Não é preciso averiguar. Sabemos que foi assim. O inevitável tem que acontecer. A única dúvida era a respeito de quando seria.

O que sobrou? Ruínas. E Dúvidas.

"Quanto tempo vai levar até limpar esta bagunça? Poderemos construir novamente nesse terreno? A estrutura ainda pode ser utilizada? O solo já não está muito castigado?"

Mas antes de tudo temos de limpar a área. Retirar os vestígios do que existia antes. Tragam a equipe de limpeza.

E ela vem. Vai lavando o entulho aos poucos. As primeiras doses do trabalho servem para aliviar o peso que desabou sobre os ombros. As próximas começam a misturar as sensações e as lembranças. Está fugindo da realidade.

Mas pelo menos nesse momento, pode fazer isso. Ninguém vai julgá-lo por isso.

E as doses se multiplicam... Junto com elas, também vão descendo pela goela as dores, a tristeza e o arrependimento. Vai subindo a sede de auto-flagelação. Mas também vem um alerta disparado por alguém lá no fundo.

"Por hoje já foi o suficiente. Os escombros maiores, resultantes do impacto inicial, já foram removidos. O perigo de um acidente mais grave já passou. O restante será recolhido com o tempo. Pode dispensar a equipe de limpeza."

"Mas a presença dela é reconfortante. Eu não quero parar agora. Deixe-a ficar um pouco mais aqui comigo."

"Não é aconselhável. Ainda há muito o que fazer agora."

"Você não disse que por hoje já foi o suficiente? O que mais preciso fazer, a não ser ficar aqui e esquecer?"

"Ainda é preciso recolher os seus restos, coloca-los no carro e leva-los para casa. Ninguém fará isso por você, lembra-se? Está sozinho, como sempre. Deve cuidar de si mesmo."

Silêncio.

Sim, é verdade. Como antes, é preciso fazer o caminho de volta no escuro, sem ajuda de uma lanterna.

"Caminhar no escuro... Guiar no escuro... O que nos aguarda durante o percurso? Espíritos? Fantasmas? Buracos na pista? Caminhões parados?"

Para descobrir, só seguindo em frente.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Pensamento do dia

Devemos sempre esperar qualquer atitude de qualquer pessoa, sem exceções. E, se um dia a facada vier, não devemos evitá-la e sim usar a cicatriz como lembrança para dar forças na hora do revide.