quinta-feira, 13 de março de 2008

Amigos

Domingo. 16 horas e 23 minutos.

Em uma mesa de bar, um sujeito toma um copo de cerveja enquanto assiste a um jogo de futebol na televisão. Nisso chega o Diego, seu grande amigo, e o cumprimenta.

- E aí? Tudo beleza?

- Opa.

Depois de cumprimentar também o dono do bar, Diego pega outra garrafa de cerveja, um copo e senta-se ao lado do sujeito.

- Cara, ontem foi foda, hein? Eu trinquei de tanto tomar. Que dor de cabeça.

- É, tava da hora o negócio.

- E você? Tá de boa, ou tá na ressaca?

- Sossegado.

- Eu nem sei que horas cheguei em casa.

- Eram cinco e meia.

- Nossa. Eu só sei que capotei lá no meio do quarto. Nem lembro como que eu entrei.

- Pulando o muro. Você pensou que tinha perdido a chave.

- Foi, né? Putz cara, que merda. E ela tava...

- ...no bolso interno da sua jaqueta.

- É.

Passou-se um momento de silêncio.

- Ué, como você sabia?

- Eu que te levei até a sua casa, te ajudei a pular o muro e vi quando a chave caiu do seu bolso.

- Nossa... Eu nem lembrava disso. Foi mal, véio.

- Nada. Você é meu amigo, porra.

Mais uma pequena pausa.

- Mas como tinha mulher lá, hein? Eu falei que ia lotar. E só tinha mina da hora. Até as meninas tavam lá. A Mariana, a Lucia, a Paula...

- É.

- O Nelão se deu bem. Filho da mãe. Ele catou uma pá de mulher. Eu cheguei em várias, mas tomei um fora atrás do outro. Só depois de uns dez foras que eu catei uma mina lá. Depois dessa, eu dei sorte com mais umas duas.

- Eu vi.

- E você? Catou alguém?

- Nem...

- Mas também, porra, você não chega na mulherada! Assim não tem como.

- Eu sei disso. Mas eu sou meio mané pra esse tipo de coisa.

Outra pausa, desta vez para encher os copos novamente e pedir mais uma cerveja.

- E a Mariana? Você devia ter chegado nela. Você não me falou que gosta dela desde o primeiro ano? Era a tua chance!

- Um cara chegou nela antes.

- Sério? Que bosta!

- Normal.

- Mas eu te falo uma coisa, você precisa arriscar mais. Tipo, é que nem eu te falei: eu levo um monte de fora, mas to sempre ali tentando. Vai que numa dessa eu conheço uma mina legal? Apesar de que ontem eu só lembro da primeira que eu beijei. Depois, eu tomei tantas que nem lembro da cara das outras.

- A loira que caiu na pista de dança.

- Fala sério! Eu catei aquela loira?!

- Catou.

- Putz! Ela beijou uma pá de nego lá! Mas também, ela tava tão chapada que era só chegar junto e catar. Mas a mina era bonita. E até impressionante uma mina tão gata dando mole desse jeito.

- Pode crer.

- E a outra, você viu também?

- Vi.

- Era da hora?

- Eu achei.

- Eu lembro mais ou menos... Só sei que ela era meio loira e ria pra caramba. Devia tá muito doida.

- E tava mesmo.

- É por isso que eu te falo, essas baladas são as melhores. Não fica aquele monte de pivete, e lota de mulher da hora. Fora as coroas gatas que vão. Você só precisa começar a chegar junto.

- Já disse, eu não tenho muito jeito pra isso.

- Nem precisa de jeito! Tá todo mundo lá a fim de divertir e pronto. De mais a mais, chega uma hora que a mulherada acaba ficando fácil. Você não viu ontem? Até o Menta pegou mulher.

- Uma baixinha. Gostosa pra caramba.

- É, né? Eu lembro! Ele ficou a noite inteira xavecando a mulher! (Risos). Provavelmente ele vai colar aqui depois. Eu vou zoar ele.

- Um-hum (o outro concorda com a cabeça, enquanto toma um gole de cerveja).

- Tá certo ele, é por aí mesmo. Vai por mim. Eu até entendo esse lance que você diz, de querer achar uma mina legal e tal... Eu também penso assim, mas não dá pra ficar só nessa. Você tem que se divertir mais, seu mané.

- Quem sabe...

De repente, o rosto do Diego se ilumina.

- Ah! Me lembrei! Eu acho que eu peguei o número daquela última mina lá. Eu lembro que eu perguntei o telefone dela e ela me passou... Apesar de que eu não sei se é de verdade. Eu te falei, ela tava rindo pra caramba, era capaz de estar me zoando.

- É de verdade sim.

- É? Como você sabe?

- Eu tenho também.

- Ela te passou?

- Passou.

- Aí, campeão!!!! Agora eu senti firmeza!!!! Eu anotei aqui como “loira” porque eu não eu não tava conseguindo salvar na memória, não lembro o motivo. Ainda não me acostumei com esse celular novo... Qual que é?

- 9... ...2.

- É esse mesmo. Peraí que eu vou arrumar... Putz, eu devia ter perguntado o nome dela.

- Se quiser, eu te falo.

- Você perguntou?

- Nem precisei. Eu já sabia.

- Como?

- Sabendo, ué.

- É? Então, fala aí.

- Mariana.

- Sério? Tá me zoando!

- Não.

- Que coincidência...

Mais um silêncio. Desta vez, um pouquinho maior que os anteriores. Diego franze a testa enquanto tenta se lembrar de alguma coisa. Ele checa o número de novo.

- 9... ...2... Esse número não me é estranho...

De repente, ele se lembra. E fica mudo. Depois de cerca de dois minutos, ele fala:

- Ah, peraí. Não pode ser. Era... “A” Mariana?

- Um-hum (o outro toma mais um gole de cerveja).

Diego olha seu amigo de lado. Este está concentrado no jogo.

- Cara, nem sei o que te dizer... Olha, foi mal, de verdade. Juro. Me desculpa.

- Pelo que?

- Como assim? Por ter catado a Mariana!

- E por que você tem que pedir desculpa pra mim?

- Mas você não falou que gosta dela faz uns dois anos, já?!

- É verdade. Só que ela não gosta de mim.

- Como você sabe?

- Sabendo.

- Mas você já falou com ela?

- Nem precisa.

- Mas mesmo assim, é foda. Eu tava muito chapado...

- Relaxa. Você quis, ela quis, e pronto.

Diego ficou quieto. Pensou consigo mesmo:

“Porra. Que merda que eu fiz... Bom, ele teve a chance, não teve? Podia ter chegado junto antes. Eu não fiz nada de errado... Apesar de que nem foi por querer. Não é possível que a Mariana não me reconheceu. Mas sei lá, ela também tava ruim pra caramba...”

Porém, a idéia de que ele tinha beijado (e beijado MESMO) a menina de quem seu amigo gostava - e ainda por cima na frente do mesmo - deixava-o muito mal. E agora? Como ficaria a amizade deles?

O outro tomou o resto da cerveja. Não demonstrava nada fora do seu jeito normal de agir. Quando o primeiro tempo do jogo terminou, levantou-se.

- Eu vou dar linha. Amanhã tem prova de Direito Trabalhista. É melhor dar uma estudada, minha média tá uma droga.

Diego se levantou também.

- Ah, tá... Viu, deixa que eu pago as brejas, belê?

- Eu pago. Você não tem nada na carteira.

Diego abriu a carteira. Estava vazia.

- Mas como isso?!

- Ontem, você perdeu seu dinheiro lá na balada, e só descobriu na hora de ir embora.

- Porra! Eu não lembrava disso! Como foi que eu paguei a comanda?

- Eu paguei a minha e a sua. Depois a gente acerta.

O outro pagou as cervejas e despediu-se do dono do bar. Voltou para cumprimentar Diego.

- Falou, véio. Até amanhã. Se cuida.

Entrou no carro e foi embora.

“Amigo é pra essas coisas”...

Obs. Nomes modificados para não deixar a história muito óbvia (pra quem sabe do fato original).

Um comentário:

The Prince. disse...

“Amigo é pra essas coisas”

O problema é acontecer o mesmo com o amigo do Diego. Nem todo mundo leva as coisas como esse amigo.

Kisses!